O dia 21 de Setembro é o Dia Mundial da Conscientização sobre a Doença de Alzheimer, o tipo de demência mais comum entre os idosos. Essa data foi instituída pela Associação Internacional do Alzheimer (ADI) como uma oportunidade para orientar e sensibilizar a população (profissionais ou não da área da saúde) sobre a doença, sintomas e como lidar com a pessoa acometida.
Atualmente estima-se haver cerca de 46,8 milhões de pessoas com demência no mundo. Este número irá praticamente dobrar a cada 20 anos, chegando a 74,7 milhões em 2030. Estima-se que a cada 3,2 segundos, um novo caso de demência é detectado no mundo e a previsão é de que em 2050, haverá um novo caso a cada segundo, de acordo com os dados fornecidos pelo Relatório de 2015 da ADI.
As demências de modo geral, levam a comprometimentos cognitivos, físicos, psicológicos e sociais importantes, cada doença com sua particularidade, mas que influenciam diretamente no modo de vida tanto do paciente quanto de quem está ao seu entorno, como vizinhos, amigos e familiares. Geralmente, a busca por auxílio é iniciada quando a perda de memória e alterações comportamentais refletem de maneira repentina no cotidiano do paciente, interferindo no seu contato com o meio (por exemplo: perde-se na rua; dificuldade para compreensão de orientações fornecidas por terceiros) e a partir daí, “entra em cena” o Cuidador.
Quem é o Cuidador?
O Cuidador é um facilitador para a realização de algumas atividades, a fim de garantir o bem-estar do paciente. Ele pode ser membro ou não da família e é responsável por acompanhar e prestar auxílio à pessoa que recebe os cuidados, auxiliando-a na execução das tarefas em que ela apresente dificuldades, tais como: higiene, a alimentação e a locomoção. É importante, ainda, assistir o idoso a realizar atividades ocupacionais, de estimulação e de lazer.
Em meio a essas atribuições cabíveis ao Cuidador, estão envoltas ainda as relações sociais estabelecidas entre ele e a pessoa cuidada, o que pode e muito, direcionar de que maneira esse processo de cuidar se dará nos próximos anos. Sendo o cuidador um familiar, sentimentos como gratidão, contentamento, mágoa e remorso, estão presentes nessa relação de cuidado, que quando somadas a limitação de tempo ou a monopolização dos cuidados, por exemplo, podem desencadear conflitos importantes, gerando assim: Estresse do / no Cuidador.
Mas como é possível minimizar os efeitos negativos do cuidado para esse sujeito que dedica a vida em função de outro?
Pela literatura em geriatria e gerontologia há instrumentos que auxiliam os profissionais a terem uma melhor percepção em quais atividades o Cuidador sente-se sobrecarregado ou ainda se há essa sensação dentro das rotinas de cuidados prestados.
Alguns deles, mais conhecidos são:
- Zarit: Avalia a sobrecarga em cuidadores de idosos com demência;
- Caregiver Burden Scale: Avalia o impacto subjetivo das doenças crônicas na vida dos cuidadores;
- Questionário de Avaliação da Sobrecarga do Cuidador Informal (QASCI): Avalia sobrecarga física, emocional e social do cuidador de idosos dependentes para AVDs;
Vale lembrar que os protocolos citados são para rastreio e direcionamento de um plano de atendimento, não desconsiderando jamais a importância de olhar e escutar atentamente ao que o Cuidador fala além das respostas fornecidas para as perguntas aplicadas.
A partir disso, é possível uma melhor compreensão acerca das atividades em que o Cuidador possui ou não mais dificuldade e esgotamento físico/mental em realizar, e criar alternativas para minimizar esses efeitos.
Segue abaixo algumas sugestões:
#1 Compreender as principais atividades que o cuidador refere dificuldade
Listar numa ordem de máxima a mínima complexidade para o fornecimento de orientações.
#2 Dar orientações acessíveis
Mais de duas orientações tendem a ser desencadeadoras de tensão, angústia e estresse.
#3 Criar momentos de orientação compartilhada
Sugerir, quando possível, atividades que possam ser realizadas pelo idoso e cuidador.
#4 Grupo de orientação ao cuidador
A falta de informação e orientação adequada quanto ao manejo de algumas situações pode, por vezes, desencadear sentimentos de tensão. Portanto, é importante dedicar tempo prestando auxílio ao cuidador frente a suas dúvidas.
#5 Grupo de cuidado ao cuidador
Um olhar atento, num ambiente de acolhimento e escuta, pode amenizar a angústia de quem cuida. Nesse espaço poderão se desconectar por algum tempo do papel de cuidador e se reconectar consigo mesmo.
# E o mais importante: Empatia
A empatia no processo de cuidar é o instrumento fundamental, que quando aliada a técnica profissional, permite ao profissional adentrar no universo do cuidador e sentir o quão desgastante é cuidar de uma pessoa, e de sua doença. Porém, não podemos esquecer que a condição de saúde e doença é consequência do processo vital e antes disso, há um idoso ou uma idosa, que tem uma história, uma personalidade, e ao cuidador cabe lidar com essas múltiplas questões.
Referência Bibliográfica:
Entendendo a Doença de Alzheimer (DA) através de estudos realizados com populações (Epidemiologia). Disponível em: <http://www.institutoalzheimerbrasil.org.br/demencias-detalhes Instituto_Alzheimer_Brasil/33/entendendo_a_doenca_de_alzheimer__da__atraves_de_estudos_realizados_com_populacoes__epidemiologia_ > . Acesso em: Setembro / 2019.
LEMOS, Naira Dutra; MEDEIROS, Sônia Lima. Suporte Social ao idoso dependente. In: Freitas, Elisabete Viana de & Py, Ligia et al. Tratado de geriatria e gerontologia. Rio de Janeiro: Guanabara-Koogan, 2ª ed., 1227-33. 2006.
CAMPOS, Camila Rafael Ferreira. Et al. Entender e envolver: avaliando dois objetivos de um programa para cuidadores de idosos com Alzheimer. Psico – Porto Alegre, Porto Alegre, v.50, n. 1, p. 1-12, 2019. Disponível em <http://dx.doi.org/10.15448/1980-8623.2019.1.29444> . Acesso em: Setembro/2019.
SOUZA, Lidiane Ribeiro de. Et al. Sobrecarga no cuidado, estresse e impacto na qualidade de vida de cuidadores domiciliares assistidos na atenção básica. Cad. Saúde Colet., Rio de Janeiro, v. 23, n. 2, p. 140-149, 2015. Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-462X2015000200140>. Acesso em: Setembro/2019.
Fernanda Fávere – Assistente Social do AME Idoso Sudeste e do Centro Dia para Idosos Angels 4U.
Aprimoramento Profissional em Atendimento Interdisciplinar em Gerontologia e Geriatria em Serviço Social (IAMSPE); Aperfeiçoamento em Família (Instituto Sedes Sapientiae); Mestre em Gerontologia (PUC); Professora convidada nos Cursos de Pós-Graduação em Gerontologia do Centro Universitário São Camilo e Instituto de Ensino e Pesquisa do Hospital Israelita Albert Einstein.
Contato: fernandafavere@yahoo.com.br