Na nossa prática clínica nos deparamos com diversas questões ditas e reproduzidas por idosos, familiares e cuidadores que nem sempre são reais. Separamos para vocês #6 principais mitos e verdades sobre o envelhecimento.
#1 – O idoso volta a ser criança
Mito – Uma das premissas da Gerontologia é não infantilizar o idoso, porque esse indivíduo carrega nos anos vividos uma história e devemos respeitá-la! Tratar o idoso como criança passa a ideia de que ele não tem mais capacidade para realizar suas atividades, de preservar sua independência e autonomia, que são pontos fundamentais no cuidado com o idoso. É fato que, por vezes, alguns idosos necessitarão de auxílio para realizar as suas atividades, mas sempre devemos nos prontificar em ajudar se referindo ao idoso por seu nome e evitando termos como “vovozinho, idosinho” que podem ser interpretados como uma forma de carinho, mas também de forma pejorativa.
#2 – Os músculos diminuem com o passar do tempo
Verdade – Com a idade, há um aumento na massa de gordura corporal, especialmente com o acúmulo de depósitos de gordura na cavidade abdominal, e uma diminuição da massa corporal magra. Esse processo é esperado em todos os idosos! Essa perda de massa muscular relacionada à idade é denominada “sarcopenia”. Alguns estudos sugerem que diferentes fatores contribuem para o desenvolvimento da sarcopenia, incluindo alterações hormonais, perda de neurônios motores, nutrição inadequada e inatividade física. A figura abaixo ilustra a redução de massa muscular (cinza) e o aumento do volume de gordura (branco) na coxa com o processo de envelhecimento.
#3 – Todo idoso tem problema de memória
Mito – Sabe-se que o processo de envelhecimento leva a alterações no sistema neurológico, mas nem sempre elas comprometerão a memória do idoso. Falhas ocasionais de memória podem ocorrer devido a déficit de atenção, privação de sono, quadros depressivos, redução de vitaminas, entre outros fatores que merecem ser investigados antes de se afirmar a presença de uma demência. Além disso, a memória é apenas um dos componentes que podem estar alterados quando pensamos em uma demência. Assim, a Doença de Alzheimer ou qualquer outro tipo de demência deve ser vista como uma condição de saúde que necessita de intervenção e não como algo comum, próprio do envelhecimento.
#4 – É normal sentir dor
Mito – Uma das principais causas de dor no idoso são as osteoartrites, popularmente conhecidas como “artroses”. É comum o indivíduo sentir dor devido ao processo de degeneração da cartilagem causado por essa doença, porém, qualquer manifestação dolorosa não pode ser considerada normal devido à idade. Qualquer queixa de dor manifestada pelo idoso merece investigação e tratamento adequado. No caso da osteoartrite, a depender do grau de comprometimento, o controle da dor deve ser feito por meio de medicamentos prescritos por Reumatologista ou Geriatra, em conjunto com exercícios específicos propostos por um fisioterapeuta.
#5 – Estou muito velho para me exercitar
Mito – É bastante comum ouvir frases como essa de alguns idosos. Engana-se quem acredita nisso! O exercício, mesmo em idade avançada, traz inúmeros benefícios, como aumento da força muscular, redução das dores, melhora da mobilidade, diminuição do número de quedas e do risco de fraturas, controle da pressão e da glicemia, reversão da osteoporose, aumento da capacidade cardiorrespiratória, ou seja, menos cansaço em suas atividades, além de promover o convívio social. Uma pesquisa recente publicada na revista Nature Medicine apresentou um conjunto robusto de evidências de que o hormônio irisina, liberado pelos músculos durante a atividade física, é importante para a formação da memória e a proteção dos neurônios dos efeitos tóxicos de compostos associados à origem do Alzheimer. Portanto, mesmo que você nunca tenha feito atividade física antes, começar agora pode melhorar, e muito, sua qualidade de vida.
#6 – O idoso deve se consultar com um geriatra
Verdade – Geriatra é o médico que se
especializou no cuidado de pessoas idosas. Ele utiliza uma abordagem ampla para
a avaliação clínica, incluindo aspectos psicossociais, escalas e testes, por
isso, a consulta geriátrica é, em geral, mais demorada.
Além de lidar com doenças como as demências, a hipertensão arterial, o diabetes
e a osteoporose, o geriatra também trata de problemas com múltiplas causas,
como tonturas, incontinência urinária e tendência a quedas. Ele também fornece
cuidados paliativos aos pacientes portadores de doenças sem possibilidade de
cura.
Frequentemente, atua em conjunto com equipe multidisciplinar – fisioterapeuta, fonoaudiólogo, terapeuta ocupacional, nutricionista, assistente social, enfermeiro – atuando na avaliação de tratamentos adequados e descartando aqueles que trazem riscos e/ou interações indesejadas.
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Referências:
- Pícoli TS, de Figueiredo LL, Patrizzi LJ. Sarcopenia e envelhecimento. Fisioter Mov. 2011 jul/set;24(3):455-62
- Charchat-Fichman H, Caramelli P, Sameshima K, Nitrini R. Declínio da capacidade cognitiva durante o envelhecimento. Rev Bras Psiquiatr. 2005;27(12):79-82
- CHEN, X. e GAN, L. An exercise-induced messenger boosts memory in Alzheimer’s disease. Nature Medicine. 7 jan. 2019.
- https://sbgg.org.br/espaco-cuidador/o-que-e-geriatria-e-gerontologia/